Jornada do Escritor: Dia 6 de 30
Dia 6: Histórias importam
Escreva sobre ALGUÉM INTERESSANTE, ALGUMA PESSOA ESPECIAL.
Coloque-se como observador(a) ou narrador(a) olhando esta pessoa.
Como é? Onde mora? Qual seu trabalho? O que tem em comum contigo?
Ela é uma mulher diferente, arrisco-me a dizer que não pertence a este mundo. Tia Regina sempre procurava dizer: Eu nasci na cozinha, deve ser por isso que não saio dela! Confesso, ela é perfeita para um personagem. Ela não é uma mocinha de sessão da tarde, nem uma sociopata num filme da Netflix.
Ela é a conhecida do bairro. A que te entrega com o maior empenho um bom dia, todos os dias.
O quê? Você não a conhece? Talvez não se lembre, mas ela sim. Ela nunca se esquece do seu aniversário.
Você pode ser o vizinho dela, o conhecido de uma loja de ração. Seu parente, seu amigo, amigo de um amigo ou amigo de alguém da família. Ei, você mesmo. Você irá ganhar um desenho dela de aniversário!
Tia Gina, como gosta de ser chamada, tem um plano bem estruturado no quarto onde realiza as suas tarefas. Ela tem uma lista, com todos os aniversários das pessoas que gosta. Para não esquecer de nenhuma pessoa, e assim poder entregar as suas encomendas.
Seu trabalho é recortar em placas as caixas de papelão, para fazê-los de sustento, como um quadro, e em seguida colocar os seus desenhos. Esses desenhos não são feitos com os melhores lápis de cor, com as melhores canetas, com a melhor ortografia. Seus desenhos são feitos com o melhor que ela pode dar: o maior carinho que ela tem por alguém.
Ela é múltipla. Consegue fazer tudo ao mesmo tempo. Pica o alho, varre a casa, responde o boa noite do jornalista e ainda leva o cachorro para passear. Mas sempre consegue um tempo para desenhar. Ela é uma mulher dura que guarda uma criança pura dentro de si. Acordava pela manhã e ligava a televisão para assistir desenhos comigo e com a minha irmã. Às vezes, ainda assiste, mas o que ama de verdade são novelas.
Oh, mulher noveleira! Não conheço outra. Não importa se você não gosta de ver, de saber, de escutar. Você precisa ouvir o que ela tem a dizer sobre o capítulo. Não interessa se não conhece nem mesmo a novela.
Ela não usa um celular para se distrair, ela dorme. E bastante, seu sono não tem fim. Ela está sempre aqui para te ajudar, e quando digo sempre, é sempre mesmo. Ela adora encontrar uma novidade para contar, e se não encontra, ela inventa.
Nutre profundos sentimentos de afeto com as pessoas que encontra em seu caminho diário da manhã. O dono da padaria, a mulher de uma lojinha, a vizinha perto de um bar, e o dono do próprio bar. Quando a pandemia chegou, sua irmã, minha mãe, recomendou que ela sossegasse, e não saísse de casa.
Feito isso, logo após alguns meses, todos começaram a perguntar: “Onde está a sua tia?” “A Gina está bem?” “Não vi mais ela!” Para essas pessoas, eu agradeço a preocupação e peço que descansem. Ela está saudável. Evitou sair muito de casa para cuidar de si, do outro, de você. Mas saiba, ela está com saudades de te ver.
É ela que aquecia o meu leite durante a noite de um dia cheio de brincadeiras. Ela que avisava a minha mãe e me repreendia para tomar banho mais cedo. É ela uma das minhas companhias de infância.
É ela que sempre nos apoiou e sempre causava crise de riso entre minha irmã e eu quando algumas vezes tropeçava no quintal. Sim, ela anda feito um trem a vapor que parece arrastar os chinelos ao invés de caminhar um passo de cada vez. Isso quando não começa a cantar de repente com o seu rádio durante as suas tardes. Ela que diz para não se preocupar com sons estranhos durante a noite, porque Deus está lá.
Ela é a minha tia, e a tia de todo mundo. Eu sou extremamente grata por tê-la comigo, agora e desde sempre. Ela é minha segunda mãe. E o amor que sinto por ela jamais poderá ser medido!
“Uma palavra escrita é a mais fina das relíquias.”
- Henry David Thoreau
MoDE - Movimento da Escrita Brasil