Jornada do Escritor: Dia 4 de 30
Dia 4: Liberte-se da edição
Até agora, aposto que o desafio passou e está mais confiante de que o processo será tranquilo. Divirta-se, liberte-se. Escreva as palavras que saem de sua mente o mais rápido possível. Nem olhe para elas, não releia (NUNCA), simplesmente liberte a mente do perfeccionismo. O que te move para a jornada adiante?
Sim, eu sei. Era pra haver um pouco mais de transparência entre nós. Ou melhor, era necessário que eu fosse mais transparente com todos à minha volta. Mas é tão estranho, indiferente, desfeito. É por isso que escrevo. Eu não preciso olhar em teus olhos para dizer o que sinto. E ninguém desconfiaria da minha veracidade só porque escolhi enviar uma carta por escrito. É que o meu ser habituou-se e encontrou espaço neste mundo das palavras para se obter um refúgio em um mundo de aparências sólidas — e contudo não os são — e nem chegam perto disso. Procuro expressar-me da melhor forma que alguém possa entender, ainda que a pressa me rasteje e o tempo me assopra, desejo que entenda. Pois não verás os meus olhos tão cedo.
Peculiar, peculiar, para quem falaria sobre isso? Não há nada à minha frente, e não há nada que sinto. Hesito mais do que o normal para escrever sobre tudo que está sendo dito, pois o meu anseio de revisar tudo novamente é gritante. Quem me dera se os erros ortográficos também não fossem gritantes. Ainda há pouco tempo, meu assunto era outro. A falta de vitaminas no sangue talvez tenha feito esse efeito sem sentido em que me entrego, sem saber o porquê ou para qual objetivo. Não ter uma meta, um assunto, uma necessidade ou uma tarefa a ser ocupada me faz sentir a mais ocupada de todas as pessoas: a de não fazer absolutamente nada. Isso sim é algo perturbador. O nada ocupa muito espaço, e não deveria. Sim, está sendo difícil, e eu nem sequer sei como terminar o que escrevo, nem para onde seguir. Isso quer dizer que estou conseguindo me adaptar com a minha vida, não sabendo ao certo o que acontecerá depois. Bem, ninguém sabe, e basta a cada dia o seu mal.
Escrever algo aleatório é a coisa mais fácil que existe, você se enche de palavras, umas aleatórias, outras objetivas, mas sempre, sempre jogadas no papel. Isso funciona? Somente às vezes. Mas é certo de que logo pelo menos quinhentas palavras irão surgir. Escrever algo aleatório é a coisa mais difícil que existe, sim, falo com bipolaridade. Você escreve sem saber o seu rumo e ainda corre o risco de entregar pistas sobre o seu sujeito sem transparência que vive dentro do seu subconsciente. É um perigo. Se você está pensando em agir da mesma forma que o ilustre protagonista de Crime e Castigo, não faça isso. Digo, não escreva aleatoriamente.
Como dizia o psicanalista Sigmund Freud,
“Nenhuma pessoa é capaz de guardar um segredo, se a boca não fala, falam as pontas dos dedos”.
Eis aqui os meus dedos que me condenam. Transpassando meu humor matutino de um dia qualquer sem que houvesse a oportunidade de revisar sobre tudo, romantizar sobre um sentimento, ou analisar algum objeto que acompanha em um momento de resistência contra o calor do dia.
É assim, uma hora fazemos uma confissão, e em outra pensamos em como uma pessoa se comporta. E tudo é rodeado de escrita, onde nós colocamos o sopro de vida.
Sem revisão, sem responsabilidade.
“A vida não pode ser escrita a lápis. Você não pode apagar um erro e corrigi-lo. Mas pode recomeçar em outra linha.” — Autor desconhecido.
MoDE - Movimento da Escrita Brasil