Jornada do Escritor: Dia 3 de 30

Andressa Santos
3 min readFeb 3, 2021

--

Dia 3: Tempo, amigo ou inimigo?

Escreva sobre o tempo que pretende dispor para escrever, qual período do dia se encaixaria melhor em sua rotina? Alguma bebida especial para acompanhar? Uma música? Qual o ambiente ideal?

Photo by Niklas Kickl on Unsplash

“Por que a gente fala isso, ‘ter tempo’? Como podemos ter tempo quando é ele que nos tem?” — Dark, Netflix (2017–2020)

É de nosso costume pensar, enquanto olhamos para os ponteiros, se teremos tempo para alguma coisa — nesse caso — para desenvolver uma boa escrita, ou se seremos encurralados pelas horas novamente. Acontece que a nossa visão de tempo é muito limitada e ofegante. Somos seres vulneráveis que vivem sob essa proteção (ou prisão) temporal. Dependemos do tempo, porque vivemos dentro dele.

Como fugir dessa longa dimensão, e fixar os pés no momento certo de nossa linha do tempo para escrever entre as linhas de nossas histórias? Há pessoas que acordam de luzes acesas, ou seja, sua maior inspiração é logo no amanhecer do dia. Outras preferem à noite, sabendo que a mente se sente mais inspirada com o silêncio noturno. Entendo ambos, de certa forma. A minha mente costuma me arrebatar em momentos imprevisíveis, enquanto o tempo corre, aceleradamente.

A escrita pode começar pela tarde, e terminar somente ao pico da noite. Obviamente, acompanhadas de algo que tenha açúcar. E tudo varia, assim como o próprio tempo do qual tentamos manipular para alcançar mais algumas palavras. Somente, mais algumas palavras… Até que se descobre que findou-se mais um dia. Não há necessidade de efeitos sonoros, contudo, o som urbano muitas vezes pode atrapalhar a vida de quem está em seu quarto, procurando o mais puro silêncio, para escrever a narrativa dos seus sonhos. Não importa a posição, quer seja o corpo deitado, quer seja em pé ou de ponta a cabeça, a mente é a mesma. E ela precisa expor para fora o que pensa, imediatamente.

Há momentos em que o pensamento se encontra vazio, e as horas sobram exaustivamente. Há dias em que nossos olhos não o percebem nem mesmo com um piscar, e a mão luta contra o relógio para tentar torcer os seus ponteiros para trás.

O tempo pode ser o nosso amigo, como também o pior inimigo que alguém poderia ter. E no final das contas, isso não depende dele, e sim de nós mesmos. Como nós estamos o usufruindo? Onde estão os seus frutos? Percebo que muitas vezes o meu papel tem sido amassar uvas ao invés de plantá-las.

Mas eu sei, não por mera rotina, mas pela visão constante de um objetivo: que não me falta tempo, me falta prioridade. E a prioridade que procuro, é ter tempo de verdade. Eu já não consigo viver sem a escrita, seja ela para um romance, ou para a vida.

Se é necessário uma rotina? Escreva.

Uma nova meta para o dia? Escreva.

Uma nova narrativa? Escreva.

Uma ideia distinta? Escreva.

Já não posso caminhar sem um papel

Ele me impede de se perder,

Diante do passar do tempo, tão cruel.

Ao passar pelas horas, percebi. Driblar o tempo é uma tarefa de sobreviventes que não se deixaram levar pela vontade determinista que lhes foi imposta. Poderíamos chamar de darwinismo temporal, onde somente aqueles que se adaptam a isso continuarão a respirar. Então prepare o seu papel, pois os nossos pulmões estão mais fortes do que nunca.

“A escrita é a única forma perfeita do tempo.” - Jean Clézio

MoDE - Movimento da Escrita Brasil
Andressa Santos

--

--

Andressa Santos
Andressa Santos

Written by Andressa Santos

Leitora ativa. Escritora amadora. Estudante de violoncelo. Uma antissocial que tem amor pela humanidade ✝

No responses yet