Jornada do Escritor: Dia 21 de 30

Andressa Santos
5 min readFeb 21, 2021

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Dia: 21: O hábito foi estabelecido com sucesso

Vinte e um dias é o tempo de que o cérebro precisa para interpretar um novo hábito como um padrão estabelecido e torná-lo automático. Parabéns! Agora escreva sobre uma confissão. QUEREMOS SABER OS BASTIDORES DA ESCRITA, o que acha que fez de errado nestes dias, ou então deu uma escorregadinha, pulou algum dia? Não esconda nada!

Uma psicóloga de escritores em crise
 

Na esquina de uma avenida longa e ensolarada havia um consultório psicológico de uma profissional muito bem conhecida na cidade. Pega pelo desespero e pressão da consciência, resolvi ir até lá. Mesmo sem nenhum horário agendado. Quando entrei, ela entendeu, pelos meus olhos profundos e expressivamente confusos, que eu precisava de uma consulta. Generosamente, resolveu adiar o seu horário de almoço para me atender.

Assim que consegui me acomodar em seu divã, a doutora Cassandra começou a perguntar:

- Vejo que você está um pouco preocupada. Pode começar a dizer, a partir daí, tudo o que quiser. Como você está se sentindo?

Eu comecei a me expor, sem fazer ideia de como isso iria terminar:

- Doutora, eu não consegui escrever hoje. Já faz um certo tempo que meus horários andam muito corridos. Quando vejo o relógio, já são quase duas horas da madrugada. E mesmo assim, eu insisto em continuar os olhando, e eles passam por cima de mim. Eu acordo bem cedo. Tenho a minha própria rotina, e nem sempre consigo fazer todas elas. O que me perturba bastante. Mas o que realmente me atordoa, é não ter uma hora específica para escrever. Não tenho sono regulado, mas tenho horário para jantar. E por que eu não consigo encaixar a minha criatividade sem ficar regulando entre a noite e o dia?

- Vejo que você é escritora. Por que todo esse anseio em olhar para o relógio? Quanto mais você olha e planeja o que fazer sem realmente tomar essa atitude, nada será feito. E o tempo continuará passando. Escreva sem olhar para o tempo, uma inspiração não vem nunca sob pressão.

- Eu só quero saber se existe algum remédio que me impeça de olhar para as horas. Não quero arrancar os meus olhos, quero apenas não me sentir dominada pelo tempo. Ah, se houvesse algum!

E continuei.

- Sim, sei disso. Mas como poderia fazer as pazes? Eu quero priorizar todas as coisas ao mesmo tempo.

- Não se preocupe quanto a isso, vamos lá. Você criou essa rotina, certo? Quais são, exatamente, as suas dificuldades? Seus desafios? Acertos?

- Bom, inicialmente, foi algo bem inovador. Eu estava completamente livre, de férias. E tudo que eu mais desejava ao acordar pela manhã, era ver qual seria o tema que escreveria naquele dia. É uma dose de ânimo diário. Ainda sinto essa sensação, mas com a pequena queda das minhas obrigações estudantis que voltaram.

- Você já chegou a se atrasar ou pular algum desses temas?

- Atrasar, digamos que sim. Eu já precisei escrever em recortes começando pela tarde e terminando só a noite. Ou então, iniciar à noite e terminar na manhã seguinte. Mas pular, nunca. Sempre consegui entregar. Isso é aliviador para mim.

- E quanto à quantidade de palavras, você tem metas? Se sente bem com elas?

- De certo que sim! Ultimamente, tenho me esforçado para sobressair das quinhentas palavras. Sabendo que, mesmo que seja um tópico incomum para mim, as ideias acabam surgindo com mais facilidade. Se der somente na casa das quinhentas, tudo bem. Passou delas, como umas setecentas, bem melhor. Mas se surgiram as mil, aí sim, é ótimo! Contudo, eu procuro preservar o conteúdo. Alguns foram rápidas sínteses, dos quais eu gostei mais do que aquelas que se lêem por mais de quatro minutos. Tudo é uma questão de conteúdo.

- Você percebe o que está dizendo? Tem total capacidade de manter todos esses desafios. O que você precisa entender, apenas, é que nem sempre escreverá com a mesma intensidade. O tema, o tempo, o seu comportamento e as circunstâncias do dia se diferem a todo momento. Não é o momento para desistir, e não importa as dificuldades que passou até aqui. Você superou todas elas, e se manteve firme e animada até agora. O tempo e as novidades são bons motivos para você escrever ainda mais, nem que seja primeiro em sua mente. Entende?

- Sim. Mas sabe o que também dificultou uma vez? Às vezes eu sinto que não conseguirei escrever tudo o que gostaria porque não tenho experiências o suficiente.

- Isso não é uma desculpa. Você pode recorrer à imaginação. A experiência só vem com o tempo, e como já dissemos anteriormente, você não pode perdê-lo tentando olhar a todo momento para ele.

- Você está certa, e eu sou muito grata por ouvir as suas palavras. Sabe que esse lugar é confortável? Parece ótimo para passar o tempo escrevendo. Quando uma ideia me vêm a mente, de repente, paro na hora o que estou fazendo para anotar ou prosseguir repetindo e alongar o ocorrido. Uma vez, depois de escovar os dentes, lá estava eu interrompendo o movimento para pegar um papel. É uma loucura.

- Isso já é algo teu. Aprecie. Se expresse sempre que puder. Não deixe que algumas influências atrapalhem as reflexões de suas mãos. Pelo visto, elas realmente não param. Tenho certeza que manter constante essa habilidade te fará ver o mundo de outra forma, tanto para suas histórias, quanto para mudar o mundo à sua volta. Mas saiba antes que você precisa mudar a si mesmo. E quer esteja feliz, ou triste. Sempre há um sentimento e uma pequena peça no dia para ser o estopim de suas palavras.

- Escrever é uma necessidade diária. Porque eu preciso expor para fora, absolutamente, tudo. Quer seja bom ou ruim. Você me compreendeu muito bem.

- Pois, então. Você precisa priorizar essa atividade, tendo consciência de que não é uma obrigação, mas uma necessidade, somente assim, conseguirá escrever, de fato. Se escrever para você é expor para fora tudo o que precisa, já sabemos o porquê de seus olhos estarem com as pupilas tão dilatadas e sua pulsação tão forte. Venha, escreva aqui, você não vai mais correr o risco de explodir, vai saber gerir tudo e transformar cada letra.

Depois de alguns segundos, continuou:

- Consegue escrever deitada? Se não, pode usar aquela mesa, se quiser.

- Muito obrigada. Eu acho que consigo dos dois jeitos, só depende se é com papel ou digital. Fora isso, não sei se ainda me é possível ter a habilidade de ser ambidestra.

D. Cassandra deu um sorriso e me entregou uma folha que estava em seu caderno para que eu pudesse escrever alguma coisa. Realmente, aquilo foi aliviador. Não deram poucos minutos, logo sabia sobre o que escrever. Tendo em vista que as linhas azuis já estavam diminuindo depressa, eu terminei de escrever na folha essa minha história.

“A palavra escrita ganha voz na sua mente...”

- Luiz Henrique Ferreira Cunha

MoDE - Movimento da Escrita Brasil

Andressa Santos

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Written by Andressa Santos

Leitora ativa. Escritora amadora. Estudante de violoncelo. Uma antissocial que tem amor pela humanidade ✝

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