Jornada do Escritor: Dia 13 de 30
Dia 13: Use o poder da natureza como inspiração
A Natureza faz parte da nossa essência. Estamos todos conectados pelas causas ambientais, dividimos lugares paradisíacos e temos experiências afetivas com ela. Qual sua história com a Mãe Natureza?
Os dias passavam depressa. E eu nem sequer olhava para as suas folhas.
Suas folhas, tão pigmentadas, soltas, e espalhadas pelo meu quintal. Era uma árvore grande, de raízes profundas, como a relação que mantínhamos desde quando a casa tinha sido construída.
Havia várias outras árvores, só que de menor porte, no fundo de casa. Davam muitas frutas, como laranjas, cajus, acerolas, mamões, e goiabas.
A árvore de goiabas é a única que sobrevive até hoje.
Lembro-me que muitas borboletas brancas e amarelas rodeavam as rosas pela manhã. Hoje, essas rosas não conseguiriam viver por muito tempo.
A fertilidade no solo foi impactada pela condição urbana aos poucos. Mas a terra ainda mantém bons nutrientes para o plantio. É só ter dedicação.
Meu pai ainda adora cultivar cebolinhas. E sempre usa o regador para umedecer suas plantas no final da tarde.
É uma mutualidade entre naturezas.
Mas com você, não foi o caso.
Eu lamento, por ter ido tão cedo; e por eu ter percebido a sua ausência tão tarde. Algumas árvores conseguem permanecer por séculos. E eu não impedi que parassem o seu respirar.
Eu pequei contra a natureza, pequei contra ti, permitindo que a fizessem tamanha maldade. Foste degolada com argumentos pálidos. E eu, em grande ilusão, acreditei que a sua ausência era pelo bem de um solo cimentado. E que, ao tirar as suas raízes, poderíamos plantar outra em seu lugar.
Mas isso não foi feito.
E se foi, talvez tenham sido obrigados.
E eu te perdi.
Perdi a sua sombra, o seu refresco, o seu aviso sobre os ventos.
Os ninhos que os seus galhos protegiam se desabaram. E os pássaros ainda procuram por um abrigo seguro.
Cantam, mas lamentam, todas os dias, em cima de um teto ou dos fios elétricos, procurando uma árvore do qual possam morar e proteger os seus filhotes.
Lamentam, todos os dias.
Poderia me servir de consolação que a sua ausência fez o céu ser visto com mais clareza, agora.
Mas eu não vejo estrela alguma onde a brecha se abriu.
A árvore é quem precisava estar lá.
O calor é insuportável, e a chuva não é mais filtrada ao seu redor.
Tantas conversas, tantos assuntos e risadas, debaixo de sua sombra.
Agora só existe uma calçada, isolada, desgastada, e ainda quebrada.
A ideia de te tirar foi uma ilusão.
Uma ilusão cumprida.
Quando os dias pararam de passar tão depressa, olhei e questionei.
Para onde eu estava correndo?
Será mesmo que a sua presença era um problema?
Desde quando a natureza seria um problema?
Será que não tínhamos outra forma de resolver isso?
Dessa forma parecia o modo mais fácil.
Mas soluções fáceis sempre trazem condições perigosas.
Agora, só o que vejo, é um toco de árvore.
Mas eu aprendi, e agradeço muito. Apesar do seu sacrifício.
E eu não sou ninfa, não sou jardineira, não sou anjo, não sou filha de senador.
Mas eu ajudarei a esverdear este bairro novamente.
Vejo que há algumas sementes de girassol por aqui, e penso que poderia plantá-las em teu nome.
Ou talvez uma árvore, uma outra árvore de verdade, onde estavas.
Como uma forma de redenção.
“Não é a parte da escrita que é difícil. O difícil é sentar para escrever.”
- Steven Pressfield
MoDE- Movimento da escrita Brasil