I Crônica: Grandiosa trivialidade

Andressa Santos
2 min readAug 7, 2021

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Banho de Cleópatra

O banho é uma das melhores tarefas do dia. Ao anoitecer, parece ser ideal. Como uma divisão de períodos, o antes e depois do banho, o pequeno espaço que temos para respirar. Que é algo importante, já sabemos. Mas nem sempre foi assim. Rei Luís XIV que o diga, tomando banho poucas vezes durante toda a sua vida. A ideia de ter um “francês” e “mal cheiro” na mesma frase nunca fará sentido.

Apesar das controvérsias de higiene presentes nos hábitos greco-romanos e da antiguidade europeia, foram os egípcios que tiveram mais noção de limpeza com seus banhos frequentes. Assim, percebo que a higiene pessoal praticada atualmente não é algo nada trivial. Imagina perceber que somos mais limpos que um rei?

Hoje, basta a temperatura cair para que muitos hesitam em tocar a água e tomar uma boa ducha. Como recomendação, peço que não deixe de lavar-se. Somos animais, mas não gatos. Trago a convicção de que, quer seja usando o chuveiro a gás, ou tendo a coragem de combinar eletricidade com água - já que o brasileiro domina raios melhor que o deus nórdico, Thor - tomar banho não deve ser posto em segundo plano. É muito mais do que lavar o corpo, é limpar a mente também.

Demorar dentro do banheiro não significa desperdício de toda a água do mundo. A manivela pode ainda não ter sido movida. As águas que escorrem pelos olhos também contam. O tempo que se passa pelo conforto de um lugar trancado para ouvir apenas a água cair e deixar os pensamentos frustrantes irem embora, é essencial. O que faço? Que lembrança é essa? Quem sou eu? Esse é o plano, farei isto ou aquilo, mas só depois do banho.

Banheiro, sabonete, toalha, chuveiro. Xampus, perfumes, hidratações e roupa limpa. A sujeira da alma vai embora conforme o corpo se renova. A pele morta que se desfaz nos apresenta a oportunidade que temos de sermos uma pessoa nova. Tomar banho é privilégio. É sucesso individual. Esqueça o Palácio de Versalhes, improvisamos nossa própria suíte. Porque o banho de verdade, é o banho da Cleópatra.

Oficina de Crônicas — Lura Editorial

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Andressa Santos
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Written by Andressa Santos

Leitora ativa. Escritora amadora. Estudante de violoncelo. Uma antissocial que tem amor pela humanidade ✝

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